sábado, 15 de dezembro de 2018

Entrevista disfuncional

É difícil decidir a quem atribuir a maior responsabilidade pela péssimo conteúdo da entrevista de DSP ao Finantial Afrik (versão francófona): se ao entrevistador, se ao entrevistado.

O entrevistador peca claramente por falta de guião (ou seja, por estar claramente a fazer um frete) enquanto o entrevistado ilude sistematicamente as questões, mais parecendo uma conversa de surdos. DSP revela, para além da vaidade deslocada de se fazer tratar por "Primeiro-Ministro", uma grande pobreza de espírito. Afirma (para agradar à francofonia?) que a culpa da instabilidade na Guiné é dos colonizadores portugueses (contradizendo-se, aliás, pois reconhece que não colonizaram, apenas comerciavam). Apesar de enxotados há quase cinquenta anos, teriam deixado as sementes das actuais discórdias. Ridiculamente atrofiante, como visão "histórica". Mas obviamente que, segundo a cartilha do PAIGC, a culpa deve morrer solteira, e lavam as mãos das responsabilidades... fabricando à pressão um bode expiatório de conveniência.

A pretexto do colonialismo, a entrevista vira tribalista, demonstrando o entrevistado não ter sequer percebido a tipologia social vertical versus horizontal de Cabral, assimilando-a a um imperativo religioso.

A cultura geral de DSP é lamentável, para um líder político.

Os portugueses chegaram "dans les années 1400"... Diz-se "no século XV". Mas poderia ser um pouco mais preciso, pois um século é uma coisa grande (mesmo não se lembrando ao certo da data da tragédia de Nuno Tristão, poderia acrescentar "vers la moitié du XVème siècle"). Uma década também não é coisa pequena, para ser etiquetada de qualquer forma. "Dans les années 90, l’alternance politique s’est traduite par une volonté de dépolitiser l’armée et démilitariser les partis politiques". Dizer "despolitizar o exército" e "desmilitarizar os partidos políticos", é exactamente a mesma coisa: pleonasmo que ilustra a retórica vazia e sem conteúdo do entrevistado. Do que é está a falar: que alternância? A do pós-guerra 7 de Junho? Essa já não foi sequer nos anos 90.

Senhor jornalista, vá informar-se. Na Guiné-Bissau, as datas do escrutínio não são aleatórias. Não foram cumpridas, neste caso, devido à incúria e incompetência do PAIGC, que se apropriou do processo de recenseamento. Quanto a tratar-se de um "tecnocrata", é puro equívoco. Não passa de um político medíocre, e da pior espécie.

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